
Olho esta imagem pensando nas estratégias de observação propostas por Elias e Scotson em Os estabelecidos e os outsiders (1994). A pesquisa deles analisou a forma como os moradores mais antigos da pequena comunidade inglesa (Winston Parva), paradigma dos “estabelecidos”, exerciam poder sobre um grupo de moradores mais recentes, os outsiders. Ao segundo grupo, a partir da anomia, eram imputados valores morais negativos, como sujeira, desordem, falta de autocontrole, a fim de demonstrar sua inferioridade. A força da estigmatização era tanta que os próprios indivíduos do grupo considerado inferior assumiam a carência de qualidades, sentindo-se menos humanos que os estabelecidos. Este mecanismo favorecia ao que Elias e Scotson consideraram uma das mais significativas características da relação estabelecidos-outsiders, a “complementaridade entre o carisma grupal (do próprio grupo) e a desonra grupal (dos outros)”. Assim, se reforçava a imagem negativa dos moradores dos bairros mais recentes. Da leitura do texto - cujas conclusões Elias e Scotson acreditam serem universais, ou seja, é possível perceber transposição para o plano simbólico do jogo de forças sociais em ação em todos os momentos históricos - ressalta a idéia de que entre “estabelecido” e outsiders trata-se sempre da sobrevivência do grupo mais forte, que procura resguardar sua auto-estima a partir da construção de um referencial que o diferencie dos outros grupos tidos como inferiores. O perigo é que entre o poder gerado pela auto-imagem positiva e a depreciação da imagem dos outros está o processo coletivo de discriminação.
Esqueço Elias e Scotson. Penso agora nos outsiders do nosso tempo - homossexuais, negros, índios, mulheres, deficientes – e compreendo o valor das ações afirmativas como forma de impor respeito às DIFERENÇAS.
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John. L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
Contribuição de Rosemary