Com profundas relações com os períodos de democracia plena no Brasil, o
movimento negro moderno emerge no século XX, propondo a integração do negro na
sociedade capitalista. Grêmios recreativos, associações beneficientes e sociedades
cívicas constituíram-se como espaço de lazer e auxílio da população negra
pobre. Destaca-se a Frente Negra Brasileira (FNB) cuja atuação era baseada no
enfrentamento público do preconceito e daqueles que impediam o pleno gozo dos
direitos civis. Antes mesmo que a integração social dos afrobrasileiros se
desse, a própria Frente, composta por profissionais liberais, garantia uma rede
de proteção social para os seus associados, através de assistência financeira,
jurídica, médica e educacional.
Por não ter eco na agenda política dos partidos conservadores ou mais
populares do país à época, as questões referentes ao/a negro/a eram
efetivamente cumpridas pela FNB, que deixa como legado a prova da
exeqüibilidade da universalização do conceito de cidadania no Brasil.
Infelizmente, durante a ditadura de Vargas, as vozes desses valorosos homens e
mulheres são caladas.
Findo o Estado Novo, temos o reflorescimento do movimento negro no país.
Em um contexto histórico de questionamento das teorias racistas, que apoiaram o
Nazismo e o Fascismo, os militantes da causa do/a negro/a não buscam somente a
integração social: o foco desloca-se, também, para a expressão cultural e sua
ligação com a sociedade. Entidades luminares são A União dos Homens de Cor
(UHC) e o Teatro Experimental do Negro (TEN).
A primeira objetivava dar visibilidade à temática do preconceito racial.
Já o TEN, tinha como objetivo a valorização da identidade cultural e o
reconhecimento da ancestralidade africana, entendida como elemento
antialienante, antídoto para o embranquecimento social, aceitação tácita de
valores da sociedade dominante, composta por brancos Sua atuação surge na
urgência da construção de um teatro negro que se oponha à discriminação na vida
social do país. Veja no vídeo abaixo a fala de seu fundador o intelectual, ator,
dramaturgo e Senador Abdias do Nascimento (1914-2011)
Peças com temáticas afrobrasileira ganham força e importantes atores são
revelados como Haroldo Costa, Abdias Nascimento, Rute de Souza e Lea Garcia.
Além disso, o TEM não perde a meta da inserção do negro na comunidade
político-econômica brasileira. Mais uma vez a ditadura, agora a gerada no golpe
de 1964 silencia as vozes da igualdade.
Em meados de 1970, com a abertura política, nova mobilização negra
floresce: Influenciada pelo marxismo, embalada pela soul music, estilizada no black
power estadunidense, agrega um novo conceito à luta contra o racismo, a consciência negra despertar crítico
para a luta por reconhecimento e cidadania num movimento simultaneamente
individual e coletivo de afirmação étnico-racial que se liga às particularidades
de nossa realidade sócio-histórico-cultural, sendo o Movimento Negro contra a
Discriminação Racial a entidade mais representativa desse período.
Contemporaneamente, o movimento negro assume a reinvidicação por direitos
civis sociais e reconhecimento social. O fato de haver, hoje, as comemorações
no feriado de 20 de novembro, homenagem a Zumbi dos Palmares e a Consciência Negra
mostram que essas agendas vêm sendo atendidas, apesar de ainda haver um grande
caminho a se trilhar para a plena conquista da igualdade.
Se as mobilizações dos Movimentos Negros e de parceiros de outros
movimentos sociais possibilitaram a criação e fortalecimento da Fundação
Palmares, da criação da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, e da
promulgação da lei 10639/2003, instituindo o ensino de História e cultura da
África e dos/das Afrobrasileiros/as em todas as instituições de ensino do país,
ainda há muito o que se fazer para que o país garanta pleno exercício da
cidadania a todos e todas: negros, negras, branco, brancas, índios e índias.
(contribuição de Renato de Alcantara)
(contribuição de Renato de Alcantara)
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